Advocacia e empreendedorismo: em busca do alinhamento

Muitas pessoas me procuram no decorrer da graduação em Direito, ou após, no começo da carreira, com perguntas que revelam receio de advogar. Esse receio é fruto, certamente, da falsa perspectiva de que o mercado está inflado, inchado e que a concorrência é desumana. Essa perspectiva é falsa, haja vista que o mercado da advocacia está aberto para aqueles que efetivamente estiverem dispostos a reinventar a advocacia. O que seria isso?

Estar disposto a sair do lugar comum, a propor um serviço jurídico inovador, realmente especializado, focado no cliente e não no processo, ou seja, utilizar ferramentas de gestão e estratégia para driblar a concorrência. Logicamente, essa reinvenção pode não trazer benefícios imediatos no curto prazo – isso não acontece com nenhum negócio – pois sempre é preciso investir dinheiro, recursos e gastar tempo. Sobretudo quando tratamos de prestação de serviços, o retorno não é imediato, diferente da “padaria”, que logo no primeiro dia já vende seu pão e pode ter seu lucro, no escritório de advocacia a chance de amargurar algum tempo sem cliente algum é grande.

Isso significa que realmente é preciso ter planejamento e estratégia para enfrentar esse começo dificultoso em função da natureza da prestação de serviços, bem como diminuir o lapso entre o início da atividade e o retorno financeiro. Portanto, é preciso empreender!

O empreendedor é aquele sujeito que faz acontecer. É o colaborador inquieto com o lugar comum, alguém que almeja algo melhor, uma nova posição, uma nova realidade, e efetivamente se dedica a alcançar esse objetivo com garra e “sangue nos olhos”. Geralmente, na atividade diária, ele faz além do que lhe é solicitado, buscando atingir seu objetivo. O empreendedor faz o que o colega deveria ter feito, ao invés de usar a falha do colega como desculpa para o insucesso. Nem todo mundo é assim, mas, mesmo que tenhamos uma personalidade um pouco diferente dessa descrita, asseguro que parte do que se dispõe a fazer um empreendedor típico podemos todos saudavelmente copiar e executar em busca de nossos objetivos.

Quer você seja dono do próprio negócio ou colaborar num negócio alheio, o espírito do empreendedorismo é fundamental. De início, podemos ressaltar que não somente o sócio deve ser empreendedor, mas até o estagiário. Isso será importantíssimo para o sucesso da banca. Empreender é, efetivamente, buscar realizar algo novo ou inovador. Logicamente que a advocacia não pode ser “virada no avesso”, pois a atividade está atrelada a certos fatores externos que não nos permitem sair do “8 ao 80”. Contudo é, sim, possível pensar em inovar aquilo que existe, propondo métodos diferenciados de atendimento ao cliente, organização estrutural da banca, segmentação especializada de mercados e até mesmo de teses ou métodos de ação e reação processual. Ou seja, é possível criar e é possível (re)criar o método dos serviços de advocacia oferecidos.

Então, na advocacia, empreendedor pode ser aquele que realmente cria algo novo ou aquele que consegue enxergar uma oportunidade de transformação e inovação naquilo que já existe, seja em seu próprio escritório, seja como colaborador em um escritório ou mesmo em departamento jurídico.

Atitude

Precisamos adotar no cotidiano uma “atitude transformadora”. Buscar pensar ser diferente, entregar diferente, realizar diferente e efetivamente advogar diferente – é isso o que pode trazer o sucesso na advocacia, principalmente para as novas bancas e novos advogados. Creio até que a realidade atual já tem evidenciado isso com transformações em grandes bancas de advocacia, criação de pequenos escritórios de luxo, de grandes escritórios focados somente na advocacia de massa, as grandes parcerias para os serviços de apoio e correspondentes. Realmente, pensar num novo serviço, num novo segmento, e aproveitar de fato estas oportunidades – isso é empreender. Criar o ambiente necessário para aproveitar tais oportunidades, isso é empreender. Mudar a forma de advogar e a forma de entregar o serviço de advocacia – eis o desafio da vez!

Algumas ideias podem ajudar a pensar sobre isso

– Criar um novo padrão de serviços não jurídicos (estabelecer um diferencial no mercado ao atender bem o cliente de forma integral, não apenas com qualidade jurídica (branding);

– Segmentar efetivamente a clientela buscando atendimento altamente especializado (ao invés de áreas de especialização, potencializar segmentos de especialização, como, por exemplo, o setor de aviação civil, farmacêutico, etc.);

– Pensar no serviço com foco no cliente (inverter o raciocínio e pensar com a cabeça do cliente para traçar estratégias de atendimento diferenciadas);

– Pensar no jogo de xadrez que é montar um escritório (escolher o melhor lugar, os melhores sócios, em que área atuar);

Existem três passos muito bem definidos na atividade de cada empreendedor.
Eles dependem da personalidade do profissional e/ou do ambiente em que foi criado. Mas é possível compreender e aprender como se faz e, com base na arte da repetição, empreender. Diante disso, considerando que muitos não encaram tal desafio com total naturalidade, afirmo que não pretendo entregar o “caminho das pedras” nem o “mapa da mina”. Quero apenas mostrar um desenho simples, porém muito útil, e que poderá ser aprimorado por você com mais leituras e pesquisas.

Os três passos são definidos claramente pela imagem abaixo:

Para alcançar o topo da escada, é preciso olhar para cima, ter o desejo, a ideia. Depois, é preciso dar o primeiro passo, ajeitando a escada, escolhendo e planejando como será o melhor jeito de subir. Por fim, é preciso subir, tomar a atitude necessária com a dedicação que se deve ter para com os nossos sonhos, assumir uma atitude transformadora. Então, podemos sintetizar: a atitude empreendedora se resume em três verbos: pensar, planejar e agir.

Separe um tempo na sua agenda. Coloque sua ideia no papel. Depois, descreva tudo o que é necessário fazer para alcançar tal ideia. Estabeleça com isso um organograma, com prazos e funções. Certifique-se de que todos os envolvidos compreenderam muito bem o que devem fazer. Parta para a ação e, por fim, colha os frutos do resultado.

Parece fácil, mas não é. Isso por que a maioria dos profissionais têm muitas ideias, alguns poucos conseguem planejar e é certo que uma pequenina minoria consegue partir para a ação. Aqui que está o maior segredo dos empreendedores: eles agem! Não estão satisfeitos com o lugar comum, são profissionais inquietos, que almejam muito realizar seus sonhos e estão dispostos a fazer o necessário para alcançá-los. Então, fique ligado: não basta ter uma boa ideia, não basta planejar – é preciso agir.

Organização

Neste ponto é muito importante colher e organizar informações. Apontar de forma escrita e clara quais são os itens desejados, planejados e quais as ações devem ser praticadas, designando quem são os responsáveis e quais os prazos. Além disso, uma revisão constante da progressão é tão importante quanto as ações em busca do resultado. Reavaliar para readequar quando for preciso.

Logicamente, empreender é realizar um conjunto de atividades, algumas com visão macro do escritório, outras num foco mais fechado. Um exemplo simples, prático, mas ilustrativo que pode ser moldado para objetivos mais complexos é o seguinte:

Tema: melhorar a qualidade do serviço não jurídico em busca de satisfação e fidelização dos clientes.

Ideia: melhorar o feedback das ligações e consultas via email dos clientes.

Planejamento: criar uma ferramenta eletrônica (no Office Outlook ou outro programa) que possa garantir o recebimento da informação pela secretária, sócio responsável, advogado e estagiário e avisar o responsável quanto ao prazo da devolutiva da consulta ou do retorno da ligação. Comunicar os envolvidos. Designar responsáveis e prazos. Realizar um teste ou treinamento.

Ação: implantar a utilização da ferramenta e monitorar os resultados para possível adaptação e, depois, buscar devolutiva dos clientes sobre a melhoria do serviço valendo-se disso como marketing.

Comportamento

Mudar nosso comportamento não é fácil. É muito mais simples permanecer em nossa zona de conforto. Porém, lembre-se que não basta ter boas ideias, não basta planejar. Para alcançar o sucesso, é preciso agir. Então, veja algumas dicas para começar:

– Comprometa-se e persista com sua ideia.

“A coragem é a primeira qualidade humana, pois garante todas as demais” – Aristóteles.

– Levante e controle as informações!

Conhecer o seu negócio com nos mínimos detalhes é importante para decidir. Não é possível confiar no “achismo”. É preciso confiar nos dados coletados!

– Planeje e estabeleça metas!

“De que adiante correr quando se está no caminho errado?” – Provérbio bárbaro.

– Confie na sua expectativa.

Enquanto houver expectativa haverá efetivamente desejo e, com isso, será mais fácil agir em busca de resultados. Esteja apaixonado pelo seu negócio!

“É o oásis que move a caravana no deserto” – Provérbio árabe.

– Tome decisões!

Não existe negócio sem riscos. O erro certamente ocorrerá em alguns momentos. Porém, saiba que o erro é a melhor escola para o sucesso no futuro. Acredite!

Fonte: Última Instância