Engajando o time na sua visão: na prática, a teoria é outra

Como empreendedor, você tem muita certeza do porquê sua empresa existe e para onde todo mundo está remando. Mas será que o resto do seu time tem essa mesma clareza? Essa é a principal preocupação de Fabiana Salles, fundadora da Gesto, empresa que ajuda na gestão da saúde dos funcionários.
Todo mês ela tem uma reunião com o time para acompanhar os resultados do último mês e falar das perspectivas para o futuro. Uma oportunidade de engajar todo mundo no mesmo propósito que a faz levantar todos os dias da cama.

“NÓS, AQUI NA GESTO, QUEREMOS GARANTIR QUE AS PESSOAS TENHAM ACESSO À SAÚDE. E FAZEMOS ISSO POR MEIO DAS EMPRESAS QUE SÃO RESPONSÁVEIS POR 80% DOS GASTOS NESSE SETOR.”

Para engajar as pessoas do time, é preciso trazer um pouco da realidade e mostrar como o que fazemos todos os dias responde a uma necessidade.

EM UM TIME DE BIG DATA QUE TRABALHA TODOS OS DIAS COM NÚMEROS, ANÁLISES E RESULTADOS DE AUDITORIAS, PODE SER FÁCIL ESQUECER DAS HISTÓRIAS QUE ESTÃO POR TRÁS DA PLANILHA DO EXCEL. E O TRABALHO DE FABIANA É GARANTIR QUE ISSO NÃO ACONTEÇA.

Os mais novos primeiro

É por isso que, para manter o propósito vivo entre os corredores da empresa, a estratégia da empreendedora é começar pela base. Como não é possível parar a operação para conversar com os 50 funcionários, ela cria algumas janelas de reuniões e conversas com pessoas do time, para educar e propagar a cultura, principalmente, entre os estagiários e trainees.

Esse trabalho começa com uma reunião semanal com os mais novos de casa em que é lançado um desafio: um case, um problema que a organização está enfrentando ou um projeto paralelo que eles achem interessante executar. Em uma das vezes, por exemplo, eles tinham que fazer uma pesquisa sobre quem eram os clientes que a empresa atendia: quantos funcionários tinham, quais eram seus valores e o que existia de peculiar e curioso sobre cada um deles. Foi uma forma de aproximar os funcionários da Gesto das empresas que costumam atender. No final, criaram um painel que foi apresentado para a equipe inteira. E que fizeram Fabiana aprender coisas sobre os clientes que nem ela mesma sabia.

Para ela, os mais jovens assimilam, absorvem e multiplicam a cultura de um jeito mais rápido. Por terem pouca experiência profissional, eles são mais abertos e conectados com o propósito da empresa. Além disso, os estagiários trazem uma visão complementar à das lideranças tanto de processos e clientes, como de resultados.
Acelerar sem deixar a cultura se perder pelo caminho

“A gente está crescendo com uma velocidade alta e, nesse caminho, criar, multiplicar e absorver culturas é um desafio gigante. Ninguém entra em uma empresa uma folha em branco. Por isso, cada pessoa nova que entra dá um movimento diferente para a sua música. Se for bem capitalizado, gera um grande valor.”

No dia a dia, como a empreendedora lida com o desafio de crescer sem perder a cultura que fez a empresa ser o que é? Na visão dela, existem duas preocupações que não podem se perder de vista: criar um núcleo forte de guardiões da cultura e cultivar um ambiente de comunicação aberta.
Núcleo de guardiões da cultura

A empreendedora acredita que a cultura evolui à medida em que chegam novas pessoas. Mas é preciso criar um núcleo de funcionários que concentram os pilares e o core do que é entendido como a cultura e os valores da organização. O mais interessante é que, na Gesto, esse núcleo não é formado por lideranças ou pessoas que ocupam altos cargos, mas sim por trainees e estagiários. Os mesmos que passam uma hora por semana com Fabiana conversando, resolvendo cases, desafios e projetos.

Assim, quando entra uma pessoa nova, ela logo é contagiada por esse núcleo mais forte de pessoas jovens que transferem a cultura de um jeito natural, sem impor pela autoridade. Elas nutrem e solidificam o que é a essência da Gesto, ajudando a disseminar por todos os cantos e corredores o propósito e a visão.
De portas abertas sem ter uma sala própria

Além disso, criar um espaço aberto de comunicação é prioridade para Fabiana.

“EU SOU EXTREMAMENTE ACESSÍVEL, NEM PORTAS EU TENHO PARA VIVEREM ABERTAS. TRABALHO AO LADO DO MEU TIME, SEM SALA PRÓPRIA.”

Com atitudes assim, a mensagem é clara: a qualquer momento, qualquer um pode falar com ela. E quando perguntamos se isso não toma bastante tempo, o que ela responde é: “Eu não deveria fazer outra coisa no meu dia. Queria mesmo é que eles viessem mais vezes.” Mas, ser aberto assim é atitude que não tem distinção de cargos, áreas ou tempo de empresa: “Se você diz que tem tempo pra um e não tem tempo para o outro, começa a fechar as portas”.

Nesse ambiente de total transparência e liberdade, a atmosfera é perfeita para incentivar o trabalho colaborativo. Tanto que uma das áreas começou a experimentar recentemente o modelo de gestão que troca o chefe pela autonomia do grupo: a holocracia. Nesse modelo, a autoridade e tomadas de decisão são distribuídas por equipes auto-organizadas com maior nível de empoderamento e sem a figura do gestor.

Experimentando na prática uma gestão sem chefes

Quando a gerente comercial abraçou uma oportunidade e se despediu da Gesto, Fabiana reuniu os 7 vendedores do time e apresentou as opções que tinham: escolher alguém de dentro, trazer alguém de fora ou experimentar o modelo de holocracia. Esse último já era algo que Fabiana vinha pensando bastante nos últimos tempos e via que aquele era o time ideal para começar os testes. Foi então que o time escolheu a última opção.

Apesar do experimento ter começado a rodar há algumas semanas, Fabiana já tem observado uma mudança significativa no comportamento do grupo. Para ela, o principal ganho está na autoconfiança do time. Quem trabalha com vendas não pode ser muito dependente de um líder ou de outra pessoa, precisa ganhar segurança, autoconfiança e ter mais iniciativa. E é exatamente isso que a holocracia está fazendo eles exercitarem.

O que antes era terceirizado ou adiado é resolvido com mais autonomia e rapidez. O time está passando por uma amadurecimento acelerado e a Fabiana entra na roda como parte do sistema, sem exercer autoridade. Esse é um caminho natural para o que ela acredita ser o futuro da gestão: a liderança compartilhada. Nela, o líder é parte do todo e não aquele que resolve tudo. Ele resolve com a ajuda do grupo, convivendo e com a responsabilidade compartilhada.

O Sonho Grande que tem tirado o sono

Com o porquê cada vez mais forte e presente no dia a dia da Gesto, na boca dos funcionários e no coração de Fabiana, não faltam planos de como fazer para chegar lá. O que mais tira seu sono é saber como fazer o que já faz de um jeito mais rápido, com mais impacto em um menor espaço de tempo.

Para tentar resolver essa equação, ela não gasta uma hora por dia pensando a respeito. Pelo contrário. Cada experiência que vive, cada novo serviço que consome, cada conversa que tem, independentemente do assunto, sempre encontra um gancho para falar ou refletir melhor sobre o negócio que está construindo: novos modos de fazer, um jeito diferente de olhar para um problema, uma referência de execução que ela nunca tinha visto…A Fabiana não para pra refletir sobre o propósito da Gesto em um momento do dia porque o propósito está dentro dela o tempo todo.

Fonte: contadores.cnt.br