A economia do futuro e o reconhecimento do bem comum

Temos sentido bastante medo ultimamente, medo de perder o conforto da modernidade, como o de acender a luz, e realmente ter luz, o de ligar o chuveiro e sair água, o de andar na rua e de não ser abatido por uma árvore. Afinal, somos muito orgulhosos das conquistas humanas e até pouco tempo atrás tínhamos a plena e rasa certeza de que natureza furiosa está dominada e que ela, como verdadeira escrava, sempre estará nos servindo. Constatamos, em curto espaço de tempo, que estávamos errados.

Quem de nós pensaria que o Brasil, repleto de potentes e admiráveis recursos hídricos, enfrentaria em muitas de suas regiões a falta de água e, por conseguinte, de energia elétrica. Enfrentaria as forças de natureza se recusando a nos obedecer, ela a dominada e também, como todo escravo, por nós desprezada.

Este embate do orgulho humano versus a força latente da natureza está alcançando uma etapa perigosa e precisa, definitivamente, chegar a uma conciliação, pois ele gera efeitos sobre devastadores em todas as áreas, inclusive sobre a economia mundial. Não será possível enfrentar nenhuma crise econômica sem que se repense o tema do uso dos bens comuns pela sociedade. Sem que se modifique o conceito de consumo e de como ele deve ser estimulado.

Os debates políticos, econômicos e sociais sempre estão entre as posições de direita e esquerda, entre liberais e socialistas, como se o mundo não houvesse avançado e estivéssemos saindo da Segunda Guerra Mundial. Não será preciso nenhuma outra grande guerra para que se termine com nações, sem não houver a preservação e o estabelecimento das regras para o uso e a divisão dos bens comuns.

Não se olha de frente para o desenvolvimento das nações. A economia somente melhora se houver desenvolvimento, mas há uma exigência, este desenvolvimento deve ser sustentável e estar intimamente ligado à educação, tão desprezada no Brasil. E educar também não será apenas informar de maneira indiferente fatos históricos, geográficos, ensinar contas e ortografia. O desafio é educar cidadãos que saibam utilizar devidamente os bens comuns.

Em Davos, neste ano de 2015, esta questão foi bastante debatida, concluindo-se que as próximas revoluções que se abaterem sobre a sociedade serão sobre a necessidade de transformar a maneira de pensar e de fazer. Nós teremos que efetivamente que pensar em muitos detalhes que deixamos de observar, como o de quanto tempo as torneiras ficam abertas, quantas árvores mandamos contar sem necessidade, só porque elas sujavam o quintal e davam trabalho, quanto tempo deixamos desnecessariamente as luzes acesas. É como no mundo primitivo, o homem se preocupava em consumir os bens naturais com parcimônia, pois já sabia o trabalho que dava fazer uma fogueira, construir uma cabana, entre tantas outras dificuldades.

A modificação no fazer e no pensar humanos trarão consequências inexoráveis sobre o direito, pois as leis vigentes terão que sofrer modificações efetivas para amparar a vida em sociedade no futuro. Na sua formalidade excessiva, na sua falta de agilidade e também de maleabilidade o direito hoje não está mais funcionando como um instrumento indutor da paz social, mas muitas vezes como um meio deflagrador de separação social e de injustiça. Teremos todos que mudar em um curto espaço de tempo.

Fonte: Última Instância